Diversos acontecimentos econômicos relevantes ocorreram em agosto de 2024, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Cada um desses eventos, isoladamente ou correlacionados, pode fornecer indícios de como a economia poderá se comportar até o final do ano. Portanto, uma análise abrangente pode auxiliar na compreensão de diferentes aspectos e na sua organização.
Boletim Focus
Como ponto de partida, ao analisar o Boletim Focus mais recente, divulgado pelo Banco Central do Brasil na última segunda-feira (19 de agosto), é possível observar a atualização dos principais indicadores, de acordo com economistas e o mercado investidor.
No que se refere à taxa básica de juros, a Selic, a previsão para 2024 foi mantida inalterada em 10,50%. Contudo, para 2025, houve um aumento de 9,75% para 10,00%, o que indica a possibilidade de uma elevação futura nos juros ou um período prolongado com a taxa acima dos 10%. Esse cenário tende a reduzir o consumo, o crescimento e a movimentação econômica.
Inflação
Há uma razão para que os juros permaneçam elevados. Ao analisar o Boletim Focus, nota-se que a previsão da inflação para 2024 subiu de 4,20% para 4,22%. Embora seja um aumento pequeno, a meta de inflação é de 3%, ou seja, ainda há uma tendência de alta, estando próxima do limite aceitável da margem de tolerância, que é de 1,5% para mais ou para menos. Para 2025, as projeções indicam uma queda de 3,97% para 3,91%, o que sugere uma possível melhora após o período prolongado de juros altos, embora ainda próximo de 4%.
Dólar
O Boletim Focus atualizou as expectativas para o dólar, fixando-o em R$ 5,30. Atualmente, o dólar oscilou bastante entre R$ 5,80 e R$ 5,40, em razão de riscos fiscais no Brasil, taxas de juros nos Estados Unidos e Japão, turbulências nas bolsas de valores globais e o risco de recessão nos EUA. No entanto, os fatores domésticos brasileiros são os principais impulsionadores do dólar a curto prazo.
PIB do Brasil
Concluindo a análise do Boletim Focus, a projeção do PIB brasileiro para 2024 teve uma leve alta, situando-se em 2,23%, enquanto para 2025 houve uma ligeira queda, para 1,89%. O Brasil, sendo um país exportador de matérias-primas como soja, ferro, petróleo, aço e carnes, é fortemente afetado pela oscilação dos preços desses produtos e pela demanda internacional. Um dólar alto favorece os exportadores, mas também aumenta a inflação, o que força a Selic a permanecer elevada, esfriando a economia.
Banco Central do Brasil
Os membros votantes do Banco Central do Brasil, na última reunião que decidiu interromper o ciclo de cortes de juros, demonstraram alinhamento na compreensão dos riscos futuros de inflação e gastos governamentais. Atualmente, sinalizam que pode ocorrer uma elevação nos juros para tentar controlar a inflação, que permanece resistente. Outro ponto relevante é a substituição do diretor do Banco Central em dezembro, o que gerou dúvidas sobre a manutenção da independência da instituição, que toma decisões baseadas exclusivamente na análise de números. Contudo, outros possíveis indicados para o cargo já se mostraram comprometidos com a continuidade das ações da atual gestão do Banco Central.
Ibovespa (Bolsa de Valores de São Paulo)
Recentemente, o Ibovespa atingiu níveis próximos às altas históricas do índice, impulsionado pelo otimismo internacional em relação à queda dos juros nos Estados Unidos e à diminuição das probabilidades de recessão econômica norte-americana. Além disso, os recentes balanços financeiros das empresas registraram alta, refletindo a retomada econômica global. É difícil prever se o corte dos juros norte-americanos poderá elevar o Ibovespa no Brasil, mesmo que os juros no país aumentem, o que poderia levar à queda do dólar, enquanto a demanda por petróleo nos Estados Unidos poderia subir, aquecendo a economia.
Cenário Internacional
Nos Estados Unidos, os economistas concordam que haverá cortes nos juros, embora haja divergência quanto ao valor aplicado, se será de 0,25% ou 0,50%. À medida que a data da reunião se aproxima em setembro, o mercado investidor já vem precificando e adotando uma postura otimista, o que indica que, mesmo na data da decisão, pode não haver grandes movimentações no mercado acionário, dado que este já está acomodado às novas tendências.
Na Europa, já começaram os cortes de juros, mas os efeitos da guerra na Ucrânia, problemas de ordem pública e socioeconômicos, e dificuldades nos setores industriais persistem. Por outro lado, a Índia continua apresentando crescimentos notáveis, embora ainda enfrente problemas socioeconômicos, sendo um país em ascensão.
China
A economia chinesa vem desacelerando desde a pandemia, especialmente após o início da crise imobiliária com a Evergrande, que afetou grande parte do setor, responsável por uma parcela significativa da economia chinesa. Mais recentemente, 40 bancos foram incorporados a instituições financeiras maiores devido ao excesso de dívidas imobiliárias, além do baixo consumo e impactos na indústria. Outro ponto é a saída de diversas empresas da China por motivos variados, com países como México, Índia, Japão e Indonésia recebendo essas empresas. A pandemia revelou que concentrar as principais indústrias mundiais em um único país, no caso, a China, torna-se inviável em práticas de gestão administrativa, com problemas de logística, gerenciamento e mitigação de riscos.
A relação comercial entre Brasil e China é crucial e está intrinsecamente ligada ao crescimento econômico chinês, que, como mencionado, está em desaceleração, com as importações chinesas de ferro, soja, aço, entre outros, abaixo do normal. O governo chinês, na tentativa de reverter essa situação de baixo consumo interno, adotou estímulos econômicos, apresentando uma leve melhora. No entanto, ainda é cedo para calcular as possíveis reações da gigante asiática.
Japão
O Banco Central do Japão encerrou o ciclo de juros negativos no país. A nova medida alterou profundamente o funcionamento econômico vigente, gerando turbulência na Bolsa de Tóquio, que se espalhou para outros países da Ásia. Contudo, após o impacto inicial, o índice Nikkei, principal indicador da Bolsa de Valores japonesa, ainda se mantém nas altas históricas desde a grande crise no país nos anos 1990. Desde então, o Japão não se recuperou completamente, enfrentando deflação, dívida e estagnação. No entanto, agora o país registrou inflação, e o Banco Central, preparado, aumentou os juros para acompanhar. O Japão vive atualmente um otimismo, com a possibilidade de receber empresas que saíram da China, voltando a ganhar destaque econômico. Entretanto, sua dívida pública ainda é um grande problema, adquirida após anos de estímulos econômicos para tentar reverter a estagnação.
Conclusão
Talvez o ponto mais importante nas próximas semanas seja o corte de juros nos Estados Unidos, pois isso afeta todos os aspectos mencionados anteriormente. Sendo os Estados Unidos a maior economia do mundo, sólida e a mais segura em comparação aos outros países, quando os juros norte-americanos estão altos, todo o capital global se direciona para títulos do governo americano, em busca de segurança, conforto e uma valorização elevada para os padrões de risco/retorno. Com o possível novo ciclo de cortes de juros, o capital represado nos títulos públicos buscará riscos maiores para conquistar retornos mais elevados, e os outros setores da economia serão aquecidos, além de facilitar a obtenção de dívidas, aumentando o consumo e ampliando os investimentos internos das empresas para atender a essas demandas.
Os mercados emergentes tornam-se mais atraentes para o capital que, antes represado, agora pode impulsionar a economia mundial. É importante lembrar que esta é uma fotografia do cenário econômico atual e que, no futuro, novos acontecimentos podem alterar o rumo, exigindo o ajuste das expectativas e uma nova análise para organizar os novos fatos e compreender todas as possibilidades.
Os pontos indicados para acompanhamento agora são: juros nos Estados Unidos, economia chinesa, japonesa e indiana, além das movimentações do Banco Central do Brasil e seus integrantes. Esses são aspectos-chave até o final do ano, mas é claro que outros acontecimentos inesperados, como guerras, eleições e desastres, podem surgir. Crises são difíceis de prever em termos de impacto, mas ainda há muito tempo até o final de 2024, e é essencial acompanhar o desenrolar desses eventos.
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